terça-feira, 29 de setembro de 2009

Discurso para Projecto Metapelho, Pizz Buin, 28 de Junho de 2008


Boa noite, meus senhores e minhas senhoras, meninos e meninas...
Estou aqui, ao vivo, em carne e osso, em directo, como momento unico do que sou, do que faço, como pessoa e como objecto artistico em si.
Comecemos entao pelo principio,
quem sou eu e o que faço aqui..
e voces perguntam, quem é este gajo e o que é que este gajo ta aqui a fazer?
com tanta gente qualificada para por aqui a discursar e puseram aqui este personagem, que ninguem conhece, com uma bandeira de portugal atras, por sua vez uma bandeira dos chineses, aqui vestido de fato, como um politico, como se a poitica tivesse alguma coisa a ver com arte...
e nao tem?
mas isso é um ponto a falar mais a frente, por agora, eu, sempre eu, porque eu sou eu, e isso para mim basta.
num momento em que a fama é uma coisa cada vez mais precosse e descartavel, temos que construir-nos ao longo de uma carreira solida e coerente para que possam dar valor ao nosso trabalho, mas eu, ainda mal começei, por isso o meu valor é nulo, ou quase nulo.
escolhi entao, a sala mais pequena deste espaço para orar ou discursar, sobre o que quer que seja..
ha quem queira salas maiores, artistas conceituados,
bla bla bla,
eu, sou um ze ninguem, que apenas vem aqui falar sobre o que isto é como objecto artistico, o tudo e o nada.
sim, o tudo e o nada,
porque esta merda da contemporaneedade tem muito que se lhe diga, dos conceptualismos e dos discursos sobre arte ou sobre o objecto de arte.
os movimentos pos-modernos levaram isto a ser o que isto é, o tudo e o nada.
talvez, a má interpretaçao de marcel duchamp, pelos criticos, se bem que eu tambem nao sei bem o que interpretar.
Curiosamete no outro dia estava a jogar xadrez com um amigo, fez-se me luz, percebi, a beleza do jogo, o raciocinio, o pensamento, a meu ver, essa é a arte, nao o acto em si de jogar, mas sim o que esta por detras disso, o que nos leva a fazer e porque..
a estetica de dois homens a jogar ou de um a discursar, pode ser interessante, o objecto pode ser esteticmente apelativo, ou nao, mas com um conteudo muito mais importante do que o cenario em si,
assim como uma pintura pode ser esteticamente interessante, mas se nao tem jogo, conteudo, perde-se, e acho que é disso que realmente se trata.
Se o conceptualismo e as questoes formais sao
importantes?
acho que sim,
de qualquer das maneiras, tenho que expressar aqui a minha preferencia pelos movimentos modernistas como por exemplo o expressionismo alemao, pois acredito que o belo é o efeito da expressao, daquilo que nos vem na alma e na mente,
para mim, é isso é muito mais belo do que por exemplo, uma tela em branco, nao que esta nao tenha sido importante no seu tempo , no sentido de levantar questoes sobre o que é a arte ou a pintura, neste caso expecifico, mas que supera as necessidades do homem e do real, e eu,com isso nao concordo.
A expressao e o sentimento como forma de arte,
a busca do belo em forma de emoçao, de arrepio, podendo a apreciaçao da estetica ser entendida de diferentes formas de cultua para cultura, enquanto que a vida , a morte, o sentimento em todo o ser humano, em toda a humanidade. nao ha raças, ha homens, culturas diferentes mas sentimentos iguais.
a estetica na arte pertence a um preconceito criado pela sociedade ocdental, mais recentemente por galeristas, curadores, etc, publico que gosta de ter picassos e paulas rego na parede, atrás do sofa, enquanto ve televisao, é estatuto, nao discordo, aceito a sua opçao, mas, nao fazbem a arte, nem ao homem..
questoes por eles levantadas e que agora fazem parte do passado?
nao pode ser..
tem que ser intemporal, tem que tocar a todos, tem que ser sempre contemporaneo.
Nao a efemeridade da arte e do artista vendido.
o vomito que nos persegue, o vomito que temos que cuspir ca para fora e que com o seu cheiro nauseabundo incomoda e toca a toda a gente que passa, que cheira, que ve, que ouve, que sente!
A estetica ou o belo como meio para atingir um fim, como suporte e apoio de uma ideia e nao o contrario.
bem, continuando com este pseudo-discurso, sobre o ser ou nao ser eis a questao, falarei agora daqulo que penso sobre o expectador, de ou da arte contemporanea, ou melhor, da sua atitude ou papel em relaçao á mesma.
A meu ver, dada a conjuntura socio-cultural, provocada pelo pós-modernismo o expectador passa a usufruir de uma liberdade, na qual podeescolher ser activo ou passivo como se pode hoje ver.
livre de escolher o seu proprio caminho, o espectador, assim como o homem, tem a liberdade de escolher.
beber cerveja, ou wisky, de escolher se me quer ouvir ou deslocar-se ate a sala do lado, livre de sair porta fora caso nao goste.
Muitas das vezes o expectador ate é convidado a participar na obra, fazendo assim, parte da mesma.
A posiçao do espetador é sem duvida essencial para o objecto artistico, passivo ou activo, arte sem expectador, nao existe!
seguindo a logica, sendo qualquer ser humano possivel expectador de arte, compreendendo-a ou nao, bastando para isso interagir com a obra.
por exemplo, supunhamos que um pigmeu aborigene australiano vai visitar o louvre, ver pintura renascentista, sem conhecimento sobre o renascimento, será afectado visualmente pelo poder das obras, como tal, é expectador de arte, mesmo que nao perceba um caralho do que se está ali a passar,
é visualmente afectado pelo objecto em si,
pois tudo o que vemos ou ouvimos afecta-nos mentalmente, afecta a nossa maneira de pensar e sentir, mesmo que seja involuntariamente, acredito ser inacto ao ser humano. como tal, o espectador mesmo que passivo será inevitavelmente afectado por qualquer objecto de arte que interfira com o seu campo dos sentidos..
nesse sentido nao consigo entender como poderá o expectador alguma vez ser passivo, será sempre activo, nao activando nada na obra de arte ou no objectoem si, mas sim activando algo na sua cabeça, como por exemplo, consciencia.
seguindo este raciocinio, o que poderá entao ser passivo, ou passificar o expectador?
O proprio objecto, a propria arte.
essa sim poderá ser activa ou passiva, podendo activar consciencias e questoes ao expectador,
ou ser, pura e simplesmente futil, e nao dizer nada de jeito, continuando o expectador a retirar sempre alguma conclusao do que absorve.
assim sendo acredito que nao existe passividade alguma no expectador e na arte.
acredito que existe arte, que afectara sempre a consciencia do expectador, e acredito que existem objectos que se tentam fazer passar por arte, ou que alguem tenta faze-los passar por arte, sem que o sejam, pois o seu conteudo nada tem a ver, para mim, com a minha propria definiçao de arte, mas sim com decoraçao.
de qualquer das maneiras, nao consigo avaliar ou obter conclusoes sobre o que isto é, pois sei bem que decoraçao nao é, mas tambem nao consigo perceber se aquilo que estamos aqui a fazer é arte ou nao,
apesar, de exprimir aquilo que sinto,
talvez, daqui a dez ou vinte anos consiga retirar conclusoes sobre esta estranha situaçao em que me encontro. talvez, com esse distanciamento temporal, consiga perceber mais alguma coisa sobre isto.
nesse sentido e falando sobre conhecimentos so posso aqui, sem querer apontar o dedo, falar das entidades estatais e privadas, que o ensinam, divulgam e activam, como de qualquer coisa que ainda estou a tentar compreender, mas, que acho e acredito que ainda tenham muito trabalho a fazer para a evoluçao cultural deste pequeno jardim á beira mar plantado tao querido para mim. acredito pois que essas entidade por forças que me sao a mim inteiramente desconhecidas, mas sobre as quais poderia conjecturar aqui algumas causas, sobre as quais recusar-me-ei aqui a falar pois é conversa que da pano para mangas, mas, sim, sinto que esses tais poderes nao fazem o suficiente para o desenvolvimento e divulgaçao da arte e da cultura. vendidos!
de qualquer das maneiras acredito que o mais comum dos esectadores nao está interessado em ver e ouvir, nao porque sejam estupido ou ignorantes, mas sim porque simplesmente acredito que é mentalmente muito cansativo ter que aturar merdas destas, ouvir gajos para aqui a falar sobre coisas que cansam, saturantes, eu proprio, penso isso e nao me escondo. ir ao CCB ver a nova exposiçao, ganda seca, ir só por dizer que vou,, pra que?
é logico que é importante ir ver coisas novas e diferentes, aprofundar conhecimentos, mas, se isso incomoda,
para que?
felizmente cada qual tem a liberdade de fazer o que quer e nesse sentido nao censuro ninguem, nao presiso que fiquem nesta sala por piedade ou so para dizer que ca estiveram, mas sim porque acham interessante ou pertinente aquilo que eu digo, ou
simplesmente porque é nesta sala que está a cerveja, e se gostam de a beber, têm que se deslocar a esta sala para vir busca-la, por mim chega-me.
viva a liberdade de expressao e de movimentos.
nao á hipocrisia, se bem que eu sou hipocrita.
nao sejamos hipocritas, vamos aqui admitir, nao o somos todos?
concluindo..
e agora com uma pequena ajuda..
“Basicamente, absorvem, fritam e reagem”

"Pizz Buin é um aglomerado formado por Rosa Baptista, Irene Loureiro, Vanda Madureira e Sara Santos, em 2005, nas Caldas da Rainha,
na ressaca da produção artística e das teorias modernistas, ainda acesas no contexto específico e institucional da escola de arte.
Pizz Buin é um projecto aberto, ao qual é acrescentada uma nova definição sempre que o mesmo é discutido: é um colectivo e não uma colectiva.
Sendo que nesta última década houve uma nova viragem e relevância dada ao espaço artístico institucional, intencionalmente, este colectivo surge inserido no sistema das artes com o propósito de a ele se dirigir.
A grande dinâmica Pizz Buin reside no vivo, na comunicação/descomunicação.
Até ao momento o grupo apresentou propostas que visam abrir a discussão, tomando como objecto-problema vários momentos do foro artístico: enquadramento da obra de arte, a sua vivência/sacralização,
as referências anteriores ao objecto de arte, a história/actualidade, a situação vernissage, as exposições,...
Os vários métodos de actuação (manipulação, apropriação, descontextualização, cutup,...) vão também influenciar a construção e percursos da proposta,
reencontrando também sentido quando apresentados nos lugares de recepção de arte.
As acções Pizz Buinianas assumem um carácter paródico e essencialmente cínico, traduzindo-se na recolocação de questões inerentes ao mundo da arte."
assim sendo, dei-me á liberdade de usurpar este pequeno texto para me ajudar na minha tentativa de definir o que isto é..
Bem, ja chega de disparates,
resumindo o assunto, voltando aqui á arte, e seguido a tentativa de logica do meu discurso.
a arte, nos seus mais diversos tipos de expressao, como a poesia, a musica, o teatro, o video, etc..
para mim, e nesse sentido, tudo o que contem alguma tentativa de consciencializaçao e de melhora do mundo é isso..
arte, e como tal, considero-me um artista, sem me querer por em cima de um estrado ou de um palco, nao so artista plastico, pois nao trabalho so com plasticos, e,
é nesse sentido que se calhar nao preciso dos tais dez ou vinte anos para compreender o que isto é como objecto artistico, pois como se sabe, vale tudo e vale nada!
é isso que isto é, o tudo e o nada,
é por isso que se pode entrar em conflito com isto e ao mesmo tempo compreender e nao entrar em conflito com este objecto,
esta espociçao.

Boa noite, obrigado obrigado.

“Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espectáculos. Tudo o que era directamente vivido se afastou numa representação.”

Debord, G., 1967, A Sociedade do Espectáculo