Acordei naquela manha fria de Inverno, como sempre,
sem vontade alguma de me levantar. No quarto escuro, os movimentos são
apertados e preciso de me despachar para não perder o comboio, para o centro da
cidade. A viagem com partida do subúrbio leva o seu tempo e de casa ao trabalho
vai mais de uma hora de distância, por isso, naquele dia às 6h20 da manha já
estava de pé. Após lavar a cara, e tomar o pequeno-almoço saio para a rua
sonâmbula, iluminada, ainda e só pela luz laranja dos candeeiros, e eu, apressado,
acendo um cigarro que insiste em entupir-me as narinas, enquanto que as
pequenas gotas de chuva me vão molhando às prestações até à estação de comboio.
Pela viagem apenas rostos sombrios e ensonados.
Cheguei a horas ao escritório da patroa, parece que
não está bem com nada ela, nunca, vive para aquilo e descarrega a sua energia
sobre os empregados, sempre zangada. Faço ouvidos moucos e depois da conversa e
das indicações pego no material de trabalho e ponho-me a mexer com a minha colega,
uma estagiária, nova, a quem a patroa tem o hábito de gritar e de chamar mosca
morta, para mim, será apenas o primeiro dia de trabalho. O saco do material é
pesado e as alças estão rebentadas assim como as rodinhas, o que me obriga a
ter que o trazer a pulso, a esforço, durante toda a manhã.
A minha colega tem vergonha do que faz, por isso ao
entrarmos no metro afasta-se de mim para não ser reconhecida como tal e não me
dirige a palavra uma única vez. Após atravessarmos meia cidade debaixo de terra
saímos finalmente para fazer o primeiro serviço, já estamos atrasados.
Caminhamos à chuva por umas ruas até chegarmos à lavandaria. Lá dentro o chão
fica automaticamente sujo com as nossas pegadas e a água trazida da rua. Tiro
para fora do saco um garrafão cheio, com cinco litro de água, o detergente para
a loiça, um balde, o material de escovagem e panos, ela trás consigo os
extensores. Verto um pouco da água do garrafão e de detergente para dentro do
balde metendo la dentro também as escovas para que ensopem. Saio para o
exterior da lavandaria com uma escova, extensor, e uns panos, enquanto isso, a
minha colega fica la dentro a tratar do interior, é esperta ela, o gajo que vá
para a chuva. Esfregamos a montra e a porta com a escova cheia de detergente e
retiramos a água com aquela coisa de raspar que se utiliza para limpar os
vidros, como os miúdos nos semáforos, os cantos são passados a pano para não
escorrer.
Em dez minutos o trabalho está feito, o material
arrumado outra vez dentro do saco e deixamos a lavandaria, com os vidros a
brilhar e com o chão imundo. Pego novamente no saco e começamos a andar em
direção ao metro, o saco já começa a pesar e os ombros a doer, o realizador
ri-se enquanto que as cameras e os holofotes já me fazem suar por debaixo das roupas
e do impermeável.
Pedro Oliveira, 06 de Fevereiro de 2013