quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

"Apresentação da Defesa de Tese e Prefácio da Componente Escrita da Tese" intitulada "Ser Expressionista no séc.XXI?"

O acaso, é algo que surge ou acontece sem causa. Ora eu não acredito que qualquer trabalho, de qualquer artista surja do acaso, mesmo que ele estude o acaso, o seu trabalho vem desse estudo e não do próprio acaso. Tudo tem uma relação com algo, tudo acontece por algum motivo, como por exemplo: esta camisola que trago hoje vestida (Camisola 10 do Maradona na Selecção de futebol da Argentina), não é obra do acaso, ela foi vestida para vincar ainda mais a minha relação com a arte, o futebol e a “Mão de Deus”, como paralelismo entre a mão de Deus do Maradona e a minha mão de Deus ao criar estes trabalhos.

Não acredito que nada que um artista faça seja por acaso e no desenrolar da minha CET, acento em Deleuze a necessidade que o artista tem em criar, ora se o artista tem a necessidade de criar, como poderia essa necessidade ou a própria obra surgir do acaso, ela surge sim da relação que existe entre o artista e o mundo e com a sua necessidade de espremer para fora as suas ideias ou opiniões. Desta forma quero salientar que toda a pintura e todo o trabalho feito por mim, aqui existente, é um acto premeditado e que desde a própria dimensão da tela, ao mais ínfimo pormenor tudo é pensado para ser como tal e nada é deixado à liberdade ou à obra do acaso. Este é também um dos pontos fundamentais que eu vejo na minha Componente Escrita da Tese onde tento explicar e justificar toda a minha construção formal e conceptual.

Dado o facto de esta defesa de Tese ser composta por duas fases, a fase de exposição dos trabalhos práticos (elementos centrais da tese) e a fase da análise da componente escrita da tese, tenho que sublinhar a minha insatisfação por não me ser possível apresentar todos os trabalhos que poderiam tornar esta defesa mais concisa e ao mesmo tempo deixar vincado que nem esta pequena exposição, nem esta pequena componente escrita resumem todo o trabalho que foi desenvolvido na disciplina de projecto assim como nas outras disciplinas adjacentes que compõem o corpo de trabalho de dois anos em que decorre o Mestrado. Estes trabalhos foram seleccionados para fazer parte de uma exposição colectiva de Defesas de Tese de Mestrado, e tentam resumir o que foi desenvolvido na disciplina de Projecto assim como apresentar de forma prática as problemáticas propostas na componente escrita.

O próprio formato de defesa de tese assim como o meu trabalho assenta em duas partes distintas, a primeira de exposição e análise dos trabalhos e a segunda de leitura e análise da CET, como já referi, ou seja uma análise plástica e uma análise conceptual, digamos assim. No caso dos meus trabalhos essa dualidade ou bipolaridade de discursos também existe pois se por um lado eles assentam a nível plástico sobre alguns pressupostos que os obrigam a existir como tal, para se poderem assumir como expressivos, a nível conceptual tendem a jogar e pensar a arte contemporânea abandonando assim o discurso moderno e a pensar sobre a sociedade que nos rodeia através de símbolos que nos transportam para certo tipo de acontecimentos com o recurso constante à sátira e critica.

Começando então por fazer uma reflexão sobre os objectos aqui apresentados em relação com a proposta da CET, devo desde já afirmar que todas as referências à pintura “O sétimo golo do Sporting ao Benfica por Manuel Fernandes em 1986787” podem ser alteradas em comparação a “O Homem na Lua” aqui exposta pois é um trabalho que reformula o mesmo tipo de questões com a vantagem de pensar a uma escala mundial e não simplesmente nacional. Este trabalho assim como “ A fuga pró Egipto” pensam a pintura como forma de expressão, de pensar e passar mensagens de uma maneira subliminar, através da utilização de símbolos que se relacionam entre si e que podem ter uma aparência surreal mas que na realidade reflectem sobre a forma de como a sociedade se organiza. No caso de “O Homem na Lua” a referencia às ventoinhas eólicas não é despropositada e tenta atingir num ponto fulcral o pensamento sobre a evolução da nossa sociedade pensando sobre a colonização e expansão humana referenciando a necessidade da instalação de objectos que supostamente seriam amigos do ambiente mas que violam a paisagem, por exemplo, neste caso a estupidez vai ao ponto de não existir vento na lua.

Outros dois trabalhos aqui apresentados, são: “Yanick Jah Love” e “as costas da camisola suada de Yornanov na final da taça de Portugal de 1994/95” que se a nível conceptual brincam com a ideia do mito do jogador, quase como um deus, tentam depois a nível formal brincar com a própria arte contemporânea referenciando a arte conceptual e minimal. Como se pode ver a nível formal estes dois trabalhos nada tem a ver com os dois descritos anteriormente.

Existem também os vídeos apresentados que mais uma vez a nível de linguagem plástica são completamente distintos das propostas anteriores. Estes trabalhos servem para pensar o artista como mito e a ligação entre vida e obra do artista. No caso de “O Homeostático” essa ligação é ainda mais forte pois para alem da citação aos HomeoEstética, grupo ao qual pertenceu o professor Fernando Brito, e que na minha opinião propunha a ligação entre vida e arte, através da defraudação paródica da arte e da estética, como exemplo máximo a banda Ena Pá 2000 de Manuel João Vieira. Este vídeo apresenta-nos um homem estático a fazer poses de estátuas clássicas censurado por umas cuecas.

Esta relação entre arte e vida põe-me assim num problema que nada tem a ver com a construção da pintura. Ela existe enquanto forma de expressão de um artista.. Não estou nunca, preocupado com a possibilidade de os meus objectos virem a ser arte, pois qualquer “Merd d’artist” o é, logo o potencial de o serem é enorme. As minhas problemáticas têm a ver com a assunção do artista perante a sociedade podendo desta maneira fazer qualquer objecto que automaticamente se torna uma obra de arte. Assim as minhas preocupações como vem referido na CET são sobre a encenação de um artista e a criação de uma ficção onde o mesmo se funda com a realidade, logo a criação de pinturas desta natureza.

A CET assim como o próprio trabalho prático é a meu ver constituída por dois núcleos distintos, os dois primeiros capítulos somado ao último capítulo, já em forma de conclusão, que de certa forma tentam justificar de um ponto de vista conceptual a minha pratica artística, e um núcleo central de quatro capítulos que explica a forma de fazer pintura ou trabalhos de carácter expressivo. Estes dois núcleos são complementares e constituem na minha CET as ideias centrais do meu trabalho enquanto artista, apoiam-se e são parte integrante da estrutura uns dos outros, assim sendo a própria componente escrita da tese sofre do mesmo sindroma tanto dos moldes da defesa como da própria construção e pensamento dos trabalhos, não fosse ela parte integrante dos mesmos.

Ser expressionista no séc. XXI? Consiste na elaboração de uma pergunta que se prende na possibilidade de no séc. XXI o expressionismo poder ser um discurso coerente na construção e no pensamento da arte contemporânea. Assim, durante a leitura de toda a componente escrita da tese encontramos para além das definições bases do expressionismo e das características plásticas que definem uma obra como tal, encontramos também a relação entre elas e o meu trabalho e as condições necessárias para que esse discurso seja valido nos dias de hoje.


Pedro Oliveira, 16 de Janeiro de 2012

Sem comentários:

“Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espectáculos. Tudo o que era directamente vivido se afastou numa representação.”

Debord, G., 1967, A Sociedade do Espectáculo